quarta-feira, 1 de julho de 2009

Letras, que formam palavras, que formam frases, que formam a vida.

Já dizia o velho sábio, antes de analisarmos o mundo a nossa volta, devemos olhar pra dentro da gente, e consertar o que tiver de errado no ''nosso mundo'', pra depois sim, caso exista a intenção, tentarmos mudar o planeta. Porém, peço desculpas ao velho sábio, mas hoje minha reflexão se baseará em mais um fato que me fez julgar os valores que nos cercam, tratando-se dessa forma, de uma visão do exterior, não do meu interior como todo principío de mudança deveria ser. Desculpa mesmo velho sábio, prometo ser um bom menino e escrever sobre minha pessoa mais pra frente.
Como disse no blog passado, minha mãe é uma quase psicóloga, e esses dias fui acompanha-la em mais um de seus dias emocionantes. Nesse semestre que é o penúltimo de seu curso, ela tratou pacientes em caso terminal, se não me engano, todos com Aids. Porém, mesmo tendo terminado o atendimento do seu estágio, ela criou um vínculo afetivo com um de seus pacientes, o qual chamarei de ''C'' por aqui, pois não devemos revelar o nome de quem um psicólogo trata. ''C'' contraiu o HIV pelo uso de drogas, e quando já sofria das reações arrasadoras da Aids, precisou morar em um albergue e por lá sofreu muito. Até pouco tempo, não tinha apoio nenhum da família, mas sempre existiu nele uma força muito grande pra viver. Ele aprendeu com os erros cometidos na vida, e por mais que certos obstáculos sejam colocados em nosso caminho, mesmo quando eles parecem intermináveis e invencíveis, na presença da esperança, existirá forças para driblarmos os obstáculos. Já dizia o meu amigo velho sábio, ''obstáculo é tudo aquilo que vemos quando tiramos os olhos de nossas metas''. Conhecí ''C'' e perebí nele uma alma frágil, mas, ao mesmo tempo, carregada de uma fortaleza surreal. Contraditório? Não, podemos ter duas facetas, e deixar que elas dividam e revezem no cumprimento do dever de guiar nossas vidas.
No domingo, dia 21 de junho, ocorreu a tarde emocionante a que me referí no ínicio do blog. Fui com minha mãe no hospital onde ''C'' estava internado. É um centro mantido pela prefeitura , por lá se concentram centenas dos casos de Aids de Minas Gerais, e sinceramente, ao chegar no local, dois sentimentos marcaram esse meu contato inicial. Primeiramente, fiquei arrasado por presenciar as condições que pessoas vítimas de HIV adquirem com o avançar da doença, muitos se encontravam em um estágio da doença bem avançado, e já possuíam um físico desnutrido e um andar prejudicado pela fraqueza do corpo. Porém, a minha sensação de alívio veio quando percebí uma funcionária contando algum caso a um dos pacientes no corredor, e arrancando dele sorrisos de quem ainda achava graça da vida. Essa sensação de alívio deve-se ao espaço digno e produtivo mantido pela prefeitura, fazendo daquele ambiente um local onde a dignidade dos pacientes e o trabalho árduo em prol da saúde por parte dos funcionários, trazem à tona uma realidade da qual torna-se possível a impressão de que ainda vivemos em um mundo no qual princípios básicos como a saúde, ainda são garantidos pelas entidades que nos governam (ao menos no caso do HIV).
Ao conhecer ''C'', tentei me mostrar sociável e disposto a me relacionar com ele de igual pra igual, chutando todo e qualquer preconceito que pudesse existir em mim, afinal, ele igual a todos, o que muda em alguém doente é sua condição imunológica, não sua condição de ser humano (palavras essas da minha mãe). Papo vai, papo vem, e não percebo ''C'' reclamar muito da vida, e nem fazer pedidos de qualquer gênero, ele apenas demonstrava querer sair logo dali, e ir pro centro de convivência, local onde ele e outras vítimas da Aids ficam quando estão melhor. Lá eles possuem assistência e interagem nas recreações e na interatividade que os funcionários do centro criam pra eles, um lazer bem saudável.
Eis que então, ''C'' diz a minha mãe que tinha um pedido a fazer. Mesmo assentado em uma poltrona como quem não queria nada, fiz questão de me ligar no que ele iria dizer. Esperei que ele fosse pedir à minha mãe que rezasse por ele, ou comprasse algum remédio. Me enganei, ele começou com o discurso de que algo poderia deixa-lo feliz e acabaria com todos os desejos e vontades que moviam seus pensamentos naquela semana; resultado: Um simples caldo de mocotó. Caraca! Vocês conseguem enxergar que mesmo com uma situação clínica complicadíssima, quando alguém podia achar que a vida conspirava contra ele, que Deus não existia, que o verde da esperança era completamente manchado por um traço negro e obscuro, ou qualquer negatividade podia marcar a vida da pessoa, ele se sentiria feliz com algo aparentemente tão pequeno? Consequentemente veio a minha terceira sensação, a sensação de fraqueza, a sensação de que em muitos momentos a gente se sente mal por coisas tão pequenas, quando na verdade, os simples detalhes da vida poderíam suprir nosso materialismo, nosso modismo, ou qualquer besteira dessas que o ser humano deseja hoje em dia. ''C'' me mostrou que a gente pode conquistar a felicidade independente de fatores que julgamos serem relevantes, quando na verdade, o que de fato é relevante na vida, é a felicidade que se resume em uma palavra, ou no máximo em 3, como as utilizadas por ele ''caldo de mocotó'', pois elas sim carregam a essência da alegria. Qual a sua ''palavra da felicidade'' atualmente? Internet? Dinheiro? Namorado? Computador? Futebol? Viagem? Exterior? Disney? Você ainda se lembra dos valores que mantinham sua empolgação e suas molecagens de criança, quando ainda somos seres ingênuos e inatingíveis para artifícios do mundo moderno? Sinceramente, acho que todos nós deveríamos julgar as letras que compõem as palavras, que formam nossas frases, e movem o que é dito, sentido e pensado por nós.
Infelizmente a notícia final é triste. ''C'' tomou seu caldo de mocotó na semana seguinte, caldo esse que foi levado a ele através de um familiar, mas, dias depois, ''C'' que havia retornado ao Centro de Convivência, deu uma saída para ir ao orelhão telefonar para algum ente querido, mas não retornou ao lar. Não se sabe o que aconteceu, ele deixou o celular na casa, saiu, e logo em seguida desapareceu. Lá se vão 4 dias sem respostas. É complicado pensar no que pode ter acontecido, se ele passou mal e veio a falecer, ou o que for, mas certo é que esse não era o fim esperado por mim, e muito menos pela minha mãe que está arrasada. ''C'' tomou seu caldo, eu o conhecí, e lá se vai alguém que marcará minha vida, e lá se vai mais uma pergunta sem respostas (onde ele está e o que houve com ele), e lá se vai mais um desejo realizado, seguido de uma reticências cruel e inexplicável.
Fica aqui meu desejo de ter proporcionado uma história digna do momento de leitura dedicado por vocês, e que ela faça todos refletirem sobre a vida que levamos, e sobre a beleza da vida que guia nossos dias.
Até o próximo blog, amigos!

10 comentários:

  1. Obrigado a todos que tiveram paciência de ler o giga texto, e espero que apareçam boas almas para comentar aqui :)
    Ah! Desculpe os erros de ortografia, mas são 4 da manhã, =/

    =P

    ResponderExcluir
  2. Nossa Rafa.... UAUUUU!!!!!
    Realmente não esperava ler um texto tão emocionante assim.
    Ás vezes é preciso que alguem vá embora pra sempre pra podermos refletir o quão essa pessoa nos fez bem e o quanto aprendemos com ela.
    Uma pena ser assim.
    Mas com esse texto, você conseguei com que eu parasse para refletir nos meus atos e atitudes.
    Foi o que voce diss.... "qual a sua palavra da felicidade atualmente...."
    Acho que preciso pensar mais nos valores básics da vida e deixar de pensar que a felicidade se resume em bens materias e físicos.
    Rafa, Parabéns! Você arrasou!!!
    Realmente deu pra emocionar demais.
    Creio que voce também aprendeu bastante vivenciando parte dessa história.
    Já é tempo de pararmos para refletir o sentindo de nossa vida e qual o real significado da felicidade.....

    Grande Beijo rafa.
    Obrigada por esse moemnto.

    ResponderExcluir
  3. Nossa Rafa...
    Um belo texto, mas não só isso.
    Quando nos deparamos com histórias assim, em que um momento de felicidade pra uma pessoa parece uma coisa tão normal pra gente. Leva a gente a realmente pensar no que queremos da vida...
    O que são nossas prioridades né?!
    " Qual a sua ''palavra da felicidade'' atualmente? Internet? Dinheiro? Namorado? Computador? Futebol? Viagem? Exterior? Disney?"
    É hoje em dia temos mto a se pensar!
    Parabéns pelo toque que deu a galera nesse post.

    ResponderExcluir
  4. Rafoniiildo, a cada post que passa eu me surpreendo mais com você! Cada post uma surpresa! =O Putz, pra quem não sabia o que escrever num blog, vem mandando muito bem!
    Sobre o post, história incrível! Valeu pelo momento de reflexão que vc proporcionou...a verdade é essa mesmo, hoje em dia nossas prioridades são coisas tão...tãoo...sei lá! Realmente, qndo eramos menores ficavamos felizes com tão pouca coisa, um gesto já valia a pena em algumas ocasiões...agora é tão diferente.
    Enfim, ótimo post!

    Beijão Rafa

    ResponderExcluir
  5. Rafa,
    adorei o post.
    O mesmo retrata dos valores.Esses tão distorcidos e reprimidos pela sociedade atual.
    O "ter" fala mais alto que o "ser".As pequenas coisas como: a amizade,família,uma simples conversa,carinho,afetos são desprezadas pela maioria.Já que,atualmente, muitos não tem tempo só pensam em dinheiro,dinheiro, dinheiro,ambição,PODER!
    Aqueles que não os possuem são jogadas, esquecidas,desprezadas.
    Isso sim pode ser chamado de INFELICIDADE.
    Por fim, a felicidade será simplesmente uma utopia,enquanto uma maioria viver individualmente.Precisamos nos doar mais.
    A Felicidade consiste em simplicidade,pequenos gestos,atos... parece poucos,mas são essas coisas que nos engrandece,com certeza.
    Parabéns!
    pelo maravilhoso post.
    PS:Ontem assisti um filme maravilhoso. Aproveito o espaço para recomendá-lo: O menino do pijama listrado.
    Filme ,extremamente,tocante. Belíssimo.tudo haver com esse post.

    Beijão Rafa.

    ResponderExcluir
  6. fala meu caro.
    devo apenas comentar que vale uma crônica
    ou se der uma elaboradinha, até um conto massa
    pensa em escrever
    ia ficar bacana
    aehuaehuea

    abraços

    ResponderExcluir
  7. Rafa, Parabéns!

    Não só pelo texto, mas por ter essa percepção dos fatos. Infelizmente, não são todos que vivenciam momentos como este e saem com essa lição.

    Que você leve esse aprendizado com a sua vida, tenho certeza que só terá a ganhar! ;)

    Boa sorte!

    Beijos

    ResponderExcluir
  8. Bacana a história. Realmente hj em dia os valores estão cada vez mais estranhos e, se repararmos bem, iremos sempre presenciar situações como esta q vc viveu. O mais irônico é que sempre vem de onde não esperamos. Talvez precisemos passar por um momento mto ruim para começar a enxergar as coisas de uma forma mais simplória e inocente, conseguindo finalmente ver nas coisas simples da vida a tal da felicidade. Acho que mais do que refletir, deveriamos absorver a lição que situações como a descrita no post passa e realmente por em prática tudo que ela nos ensina. Enxergar é apenas o primeiro passo a ser dado.

    ResponderExcluir
  9. Rafa,
    adorei seu post, está de parabéns pelo texto.
    Acho super legal você compartilhar com outras pessoas essa experiências. Esse "C", com certeza, nos faz refletir sobre nossas prioridades, além de nos mostrar como um simples fato pode fazer alguém feliz.

    Adorando isso aqui!

    Um beijo.

    ResponderExcluir
  10. Rafa, isso é abandono de bloog =p uahuhahua

    ResponderExcluir